Numa viagem ao encontro da história e cultura de muitas regiões, as 500 Milhas ACP marcaram, mais uma vez, encontro com o sucesso. Na 17ª edição, não faltou espetáculo e emoção entre as 56 equipas participantes, com a vitória a discutir-se mesmo até ao último controle, depois de uma longa maratona de 16 horas e 640 quilómetros!
Está cumprida a 17ª edição das 500 Milhas ACP, a grande prova de regularidade histórica do Automóvel Clube de Portugal que, anualmente, reúne clássicos das décadas de 50 a 70, testando a capacidade de equipas e máquinas num percurso com mais de 640 quilómetros, cumprido num único dia e ao longo de 16 horas consecutivas.
Este ano, a cidade dos arcebispos foi o ponto de encontro e de partida para as 56 equipas inscritas na prova, que se iniciou pontualmente às 6h01 da madrugada deste sábado, junto ao Bom Jesus de Braga. Na véspera, e antes das obrigatórias verificações administrativas e técnicas, o público ainda teve oportunidade de admirar estas verdadeiras peças da engenharia e da história, numa concentração realizada em pleno centro da cidade, frente ao renovado Mercado Municipal de Braga.
Dos mais populares aos mais exclusivos, a prova do ACP Clássicos levou às estradas nacionais alguns dos mais bem preservados exemplares das décadas de 50, 60 e 70, numa lista representativa de 16 marcas e que incluiu modelos tão emblemáticos como o Datsun 240Z, Jaguar E-Type, Porsche 356, Mercedes-Benz SL, Alfa Romeo GTV, BMW 2002 ou Ford Escort, entre tantos outros simbólicos automóveis capazes de despertar a memória do passado.
O próprio percurso da prova foi uma viagem no tempo, ao encontro da história, cultura e tradições das muitas regiões que se cruzaram ao longo desta maratona, cuja rota manteve uma estreita ligação à N2, em jeito de tributo àquela que é a maior estrada da Europa (e terceira mais longa do mundo) e que, em 2020, celebrou 75 anos.
Com a bússola apontada desta vez a Montargil, a maior prova de clássicos portugueses desafiou os concorrentes a um itinerário extenso e exigente, mas de inegável beleza, com início em Braga e passagens pelo Gerês, Boticas, Vila Pouca de Aguiar, Serra da Estrela, Fundão, Vila Velha de Rodão e Ponte de Sor.
Mais do que a velocidade, importou a consistência do desempenho, aferida ao segundo através dos vários controles secretamente instalados no percurso, ou não fosse esta uma prova de regularidade, que misturou momentos de contemplação com pura concentração…
A competição entre rivais de peso histórico fez-se ao longo do dia, em 19 provas especiais que variaram entre a regularidade hectométrica, a regularidade por setores e a regularidade à figura. Desafios que, no final, decidiram o escalonamento da tabela classificativa e o vencedor absoluto.
Também nesse particular, a prova do ACP Clássicos foi histórica, com 15 equipas a repartirem as vitórias nas 18 provas especiais cumpridas (a primeira foi anulada) e com os dois primeiros classificados a partirem para o derradeiro troço separados por escassas 0,8 décimas de segundo. Melhor, seria difícil…
Feitas as contas no final e somadas todas as penalizações na estrada, as três equipas mais regulares no cômputo geral foram as que asseguraram o triunfo nas três principais categorias em disputa, sendo importante sublinhar que a organização não estabelece um vencedor à geral.
Ainda assim, e seguindo a ordem do escalonamento final destas 500 Milhas ACP, a mais regular seria a dupla Carlos Seara Cardoso/Ricardo Seara Cardoso, num magnífico Triumph TR4 de 1964, com que garantiu o triunfo na Categoria F (para veículos construídos entre 1961 e 1979), com um acumulado de 15,1 segundos.
Pedro Carregosa e Ekta Sureschandre, num Jaguar MK2 3.8 de 1960, garantiram o segundo posto virtual e a vitória na Categoria E (veículos construídos entre 1946 e 1960), com mais 9,7 segundos que a dupla anterior.
Com apenas mais uma décima, a dupla Manuel Romão/António Caldeira, que entrou para a última especial em segundo da geral, completou o pódio virtual final, conduzindo o Datsun 240Z de 1973 ao triunfo na Categoria G (veículos construídos entre 1971 e 1980).
Das 56 equipas admitidas à partida, 51 atingiram o final da 17ª edição das 500 Milhas ACP.
“Era realmente difícil pedir melhor”, resumiu, no final, Filipe Gaivão, o Diretor de Prova. “Foi, de facto, uma edição a todos os títulos memorável, entre as melhores de sempre das 500 Milhas ACP, porque tudo correu de forma perfeita. Tivemos um dia magnífico em termos de temperatura e os concorrentes puderam aproveitar ao máximo esta prova, uma vez que conseguimos dosear bem as dificuldades ao longo do percurso, permitindo que as equipas pudessem rolar, competir, mas também divertir-se”.
Desportivamente, “tivemos uma discussão muito renhida pelos primeiros lugares, o que tornou tudo ainda mais emocionante, sendo de realçar a enorme qualidade dos concorrentes, comprovada, de resto, pelo facto de termos tido 15 vencedores diferentes nas 18 provas especiais disputadas”, destacou, ainda, Filipe Gaivão, apontando que esta melhoria se deveu, muito provavelmente, aos cursos de regularidade que o ACP Clássicos realizou durante a pandemia.
Para 2023, Filipe Gaivão deixa já a promessa de que as 500 Milhas ACP serão uma viagem ao passado e às origens desta prova, num itinerário que, “embora não esteja ainda totalmente definido”, levará os concorrentes a percorrer a totalidade da maior estrada nacional portuguesa, a histórica EN2.