Prova superada! Renault 4L “portuguesas” resistem mesmo a tudo!
Missão cumprida! Duas Renault 4L à partida do East African Safari Classic Rally, duas Renault 4L à chegada! Após quase 5000 quilómetros percorridos, muitos percalços e 1001 “estórias” para contar, o Team Renault 4L 60th Anniversary – Portugal concluiu a mais dura prova de clássicos do mundo, provando que a mítica Renault 4L é mesmo à prova de… tudo!
A aventura afigurava-se intensa. Mas, com temperaturas diárias de 40 °, classificativas com pisos demolidores mais propensas a veículos de Todo-o-Terreno, a exigência de cumprimento de médias regulamentares de 75 km/h num automóvel com velocidade máxima de 120 km/h e apenas 34 cv de potência e o acumular de quase 5000 quilómetros em nove dias de prova, o que tinha rótulo de aventura transformou-se em… odisseia!
Para as duas duplas de pilotos – António Pinto dos Santos/Nuno Rodrigues da Silva e Pedro Matos Chaves/Marco Barbosa – que, corajosamente se propuseram a homenagear os 60 anos do mítico modelo da Renault, foram nove dias de experiências marcantes, emoções fortes e desgaste físico extremo, mas uma certeza no regresso a Portugal: a icónica Renault 4L, que ao longo de 60 anos, marcou a vida de tantas pessoas, é mesmo um hino à resistência mecânica e fiabilidade automóvel, mostrando-se apta para ultrapassar qualquer desafio…
Na verdade, até os desafios mais difíceis, que, recorde-se, grandes construtores como a Toyota, Hyundai e Ford se recusaram a enfrentar no regresso do famoso Safari Rally Kenya ao Campeonato do Mundo de Ralis em 2021, depois de considerarem que as suas máquinas, avaliadas em milhões de euros, não resistiriam à exigência dos pisos de um Rali como o “Safari Classic”, verdadeiro Safari “à antiga”! Faltava-lhes, seguramente, uma Renault 4L, com um valor mais de 100 vezes inferior aos seus bólides “state-of-art”!
Ironias à parte, a prestação do Team Renault 4L 60th Anniversary – Portugal foi cumprida com elevada distinção. As duas sexagenárias carrinhas com ADN português, voltaram a elevar o nome de Portugal em África bem alto, não pelo resultado desportivo (mesmo assim António Pinto dos Santos e Nuno Rodrigues da Silva terminaram em 39º em 41 concorrentes e Pedro Matos Chaves/Marco Babosa fecharam mesmo o pelotão de equipas sobreviventes), que nunca foi o foco principal da participação, mas pela simpatia e admiração granjeada ao longo da prova. Equipas, organizadores e populares renderam-se às “sui generis” carrinhas que nunca pensaram ver a disputar um rali… quanto mais ver chegarem ao final de um rali tão duro como o “Safari Classic”. Aplausos e manifestações de carinho para com as duas populares 4L, sem esquecer a ajuda e solidariedade de muitas equipas concorrentes nos momentos mais difíceis de prova, fizeram parte do dia-a-dia da aventura de épicos contornos, e que ficará gravada na memória de todos os intervenientes.
Renault 4L de série e “indestrutível”
Se ao longo da sua já longa vida de 60 anos, a Renault 4L tinha ganho fama pelas suas qualidades de automóvel versátil e resistente, a partir de hoje, a sua reputação, quanto à sua resistência mecânica, saiu ainda mais reforçada.
Ao longo do extenuante e muito exigente percurso queniano do rali as duas 4L “gémeas” enfrentaram inevitáveis contrariedades – ao nível da cedência de amortecedores, semieixos e radiadores -, mas, no que aos órgãos vitais como motor, caixa de velocidades e embraiagem diz respeito, não registaram quaisquer problemas, o que, por si só, denota bem a resistência e fiabilidade mecânica do emblemático modelo.
Curiosamente, as maiores dificuldades prenderam-se mesmo com os amortecedores, única peça que não era de série, e que a equipa de assistência AMSport acabou por substituir, no dia de descanso, por unidades de série, que com todo o mérito passaram então a cumprir, na perfeição, o seu papel.
Após a consagração no pódio, à chegada a Watamu (Quénia), António Pinto dos Santos, o principal mentor do projeto, não podia estar mais satisfeito: “A participação no Safari Classic e o facto de termos os dois carros à chegada de um dos ralis mais duros e difíceis do mundo só reforça a validade do projeto industrial da Renault 4 que se iniciou há 60 anos e que fizemos questão de vir comprovar ao Quénia, num fantástico evento. Foi uma aventura gigantesca, onde nunca nos preocupamos com a classificação, mas onde enfrentamos, como é natural, alguns problemas de amortecedores, radiador e três furos, mas onde conseguimos a proeza assinalável e em que muitos não acreditavam de terminar a prova. Aliás, esta foi a 45ª participação num rali com a Renault 4L e terminámos todos os eventos, o que, mais uma vez, prova, a tenacidade deste modelo”.
Já para Pedro Matos Chaves, ex-piloto de F1, que considerou a sua participação na prova como uma das maiores aventuras da sua já longa carreira, “o balanço só pode ser positivo pois concluímos uma prova muito difícil, com inúmeras dificuldades, é certo, mas onde a Renault 4 me surpreendeu pelas suas enormes capacidades de transpor todos os obstáculos com que nos deparámos, fossem subidas que eu achava que seriam impossíveis de fazer com um carro de duas rodas motrizes e 34 cv, fossem passagens de areia e ‘fesh fesh’ onde qualquer automóvel convencional teria ficado atolado e ‘sufocado’ ou até fazer 88 km com um amortecedor partido, algo que penso mais nenhum carro conseguiria ter feito, e que, definitivamente, mostraram a validade e resistência da Renault 4L”.
Entre os maiores desafios, o experiente ex-piloto oficial da Renault destacou “a aventura que é guiar nas longas ligações com médias obrigatórias difíceis de cumprir para a 4L e com muito trânsito de camiões que, muitas vezes, andavam mais do que o nosso carro, mas também o perigo e a incerteza do comportamento dos animais selvagens como leões, elefantes e girafas, quando tivemos que parar o carro para resolver problemas mecânicos e ficamos ‘sob observação’. Em todo o caso, só posso dizer que o rali se transformou numa experiência fantástica, que ficará para sempre na minha memória”.
Sem dúvida, uma participação meritória e honrosa do Team Renault 4L 60th Anniversary – Portugal, que deixou o seu registo na história do tão carismático modelo da Renault.