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Lotação esgotada no dia de abertura da edição deste ano da GLEX Summit, marcado pelas surpreendentes e incríveis estórias partilhadas por mais de uma dezena de cientistas e exploradores. Uma viagem épica pelo planeta Terra e pelo Espaço. Mas o desafio lançado pelo presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses, aos promotores e organizadores da cimeira constituiu outro dos momentos altos do programa: o convite para que, a ilha Terceira, acolha a sede da GLEX Summit, o maior e mais importante encontro anual de exploradores do planeta. Até à próxima sexta-feira (16 de junho), quase três dezenas de notáveis nomes ligados à ciência e à natureza vão ainda subir ao palco do Centro de Congressos da cidade Património Mundial da UNESCO.

Na sessão de abertura da edição 2023 da GLEX Summit, Richard Garriott, presidente do The Explorers Club, fez um imenso elogio aos Açores: “Fui o primeiro explorador a atingir os dois pólos, a mergulhar na Fossa das Marianas e a subir ao espaço, mas posso assegurar que não há lugar mais bonito neste planeta do que aqui mesmo nos Açores”. Talvez motivado por isso, Álamo Meneses, presidente do município de Angra do Heroísmo lançou o desafio: “fica o convite aos organizadores e promotores da GLEX Summit para que a ilha Terceira passe a ser a sede permanente da cimeira”.

A manhã prosseguiu com a sessão “Encontros”. Mais de duas horas de partilha de surpreendentes e improváveis estórias, mas também inusitados encontros e lições aprendidas, desde Marte, à Africa mais profunda e genuína, até às profundezas dos oceanos. Nathalie Cabrol, diretora do Carl Sagan Center for the Study of Life in the Universe, assumiu o desafio de falar de um dos temas mais inquietantes da história da civilização: a vida para além da terra. “Estamos a abordar algumas das questões mais profundas da humanidade. Estamos a tentar compreender a vida lá fora. Será que Marte foi habitado no passado, será que pode ser habitado no futuro? Agora, estamos a estudar e a compreender o terreno, para de seguida tentarmos perceber a eventual presença de vida. Estamos a estabelecer várias conexões, porque nunca se sabe de onde virá a resposta. Nós não estamos separados. Está tudo conectado, sejam oceanos, terra ou a vida no espaço. Aliás, a vida talvez seja um momento, no tempo, no universo, que se está a mover no espaço e no tempo”.

Com Chris Rainier, a GLEX Summit fez uma extraordinária viagem pelos modos de ser e de viver dos povos indígenas. O explorador e fotógrafo da National Geographic confessou: “Um dia decidi que precisava de ir para a floresta e fazer as perguntas certas. Adoro mapas que dizem que ‘não há dados disponíveis’. É para lá que gosto de ir”. Expedições que o ajudaram a tomar consciência que, na verdade, “existem múltiplas realidades e formas de sabedoria. Só na Nova Guiné existem cerca de 1.000 dialetos. Todos pertencemos a este frágil planeta a girar no Universo e todos precisamos de salvar este frágil planeta em que vivemos”. Mas o também diretor e CEO da The Cultural Sanctuaries Foundation fez questão de sublinhar que “esta é uma altura extraordinária para estar vivo. Estamos vivos num momento espantoso da evolução humana”.

Dois portugueses também participaram na manhã de abertura da GLEX Summit. Emanuel Gonçalves, cientista-chefe da Fundação Oceano Azul e docente do ISPA – Instituto Universitário de Lisboa, foi bastante contundente: “Não podemos prometer mais ignorância. Podemos mudar porque sabemos. Há uma desconexão fundamental entre nós e o oceano porque não vivemos lá. Precisamos de proteger a natureza e precisamos de o fazer com conhecimento. Nós temos as ferramentas para o fazer. Um oceano saudável é a chave para o desenvolvimento humano”.

Já Nuno Sá, um premiado cameraman subaquático, especializado em grandes espécies marinhas e que já colaborou em várias produções da vida selvagem, teceu um rasgado elogio ao arquipélago: “Os Açores são como que escolhidos a dedo pela natureza ou por Deus”.

O polaco Piotr Chmielinski, explorador e presidente da HP Environmental, numa referência à Ucrânea, afirmou: “temos de salvar o planeta, mas precisamos de salvar a democracia e a liberdade”. Mas deixou ainda um aviso à premência de “tirar as gerações mais novas do computador e das tecnologias, puxando-as para a vida no exterior, com as atividades ao ar livre a terem de ser uma parte importante da sua vida”.

Andrew Revkin, jornalista americano especializado em ciência e meio ambiente, com trabalho de investigação desenvolvido em temas como a destruição da floresta amazônica, o tsunami asiático de 2004 e o impacto das alterações climáticas nos polos, destacou “a importância do jornalismo e do ´storytelling´ na preservação do planeta”.

A sessão “Fogo e Gelo” encerrou o dia inaugural da GLEX Summit, revelando as relações dinâmicas que os exploradores estabelecem com os extremos do mundo natural e as formas como nós, humanos, aproveitamos os opostos para descobrir territórios inexplorados – desde os mistérios da floresta tropical escura, às paisagens sonoras marcianas, à lenda do rio fervente na Amazónia e muito mais.

O peruano, Andrés Ruzo-Callejas, conhecido pelo trabalho desenvolvido no rio fervente da Amazónia, no Peru, onde se tornou o primeiro geocientista a receber a bênção xamânica para estudar este local sagrado da Amazónia, confessou que, “enquanto académico, sinto que, por vezes, muito do conhecimento fica retido”. Quanto ao rio fervente da Amazónia, a lenda esteve esquecida, “até ao dia em que, num jantar de família, a minha tia disse que o rio existia mesmo e que ela já lá tinha estado.  É um local geologicamente muito interessante e eu não sou a primeira pessoa a perguntar porque é que este rio está a ferver”.

O brasileiro Leo Lanna transportou a GLEX Summit numa fantástica viagem noturna pela floresta, no escuro, detalhando a imensa biodiversidade.  “À medida que as expedições avançam, pergunto às trevas: que mistérios e belezas nos vais apresentar esta noite? Começamos sempre com uma premissa: que outros segredos nos estão a escapar?” O trabalho desenvolvido na investigação dos louva-a-deus é um dos mais reconhecidos, com o explorador e biólogo a destacar “a fantástica habilidade que têm em digerir insetos venenosos”. Mas, por outro lado, faz questão de esclarecer: “não é bem verdade que as fêmeas comem a cabeça dos machos depois de acasalarem. Isso acontece em locais mais frios, mas em locais mais quentes, onde não há escassez de alimento, isso não aconteceMas mais importante, é que ainda há tantas espécies para descobrir…”.

“Obcecado pela investigação do planeta Vénus”, Paul Byrne, professor do Earth and Planetary Sciencese, defende que “os balões podem ser uma forma de explorar Vénus, por serem de longa duração e por poderem ser carregados pelos ventos de altas altitudes. E uma vez que estão na atmosfera, podemos procurar o batimento cardíaco do planeta. Aliás, estou convicto de que os balões podem ter, para Vénus, a importância que o rover tem para Marte”. A finalizar, o irlandês desafiou a plateia a estar atenta, “porque os nossos balões vão voar pelos céus de Vénus e,quando o fizerem, terei todo o gosto em regressar à GLEX Summit para vos contar”.

Bhavita Bhatia é uma contadora de histórias, conservacionista de cavalos e aventureira, com mais de uma década de experiência em torno das comunidades pastoris da região trans-Himalaia na Índia, Butão e Nepal. Na GLEX Summit defendeu que “a exploração, hoje, precisa de ser mais inclusiva e intuitiva”. Para além disso, “é necessário investir fundos e recursos na proteção das espécies”, dando o exemplo dos cavalos dos Himalaias: “Não existem estradas nestas regiões, por isso como viajamos? Com cavalos. Os cavalos trazem comida, servem de ambulância, fertilizam as terras. Os cavalos são mais do que um animal comum. Trazem sorte e fortuna às famílias. São vistos como um símbolo da sorte”.  

Anna Roosevelt, lendária antropóloga, partilhou a sua longa investigação sobre a primeira dieta paleolítica e o seu impacto na evolução da espécie humana.

Nina Lanza, chefe de equipa para a exploração espacial e planetária no Laboratório Nacional de Los Alamos, mas também investigadora principal do instrumento ChemCam a bordo do Mars Science Laboratory Curiosity rover e membro da equipa científica do instrumento SuperCam a bordo do Mars 2020 Perseverance rover, destacou: “a atmosfera de Marte é muito diferente da da Terra e isso muda a forma como o som se propaga. Porque é que usamos microfones nos rovers? Para refinar os modelos de como o som se propaga em Marte; aprender acerca dos processos atmosféricos marcianos; e ouvir os sons dos rovers. Por isso, percebe-se a importância de incluir microfones nas missões planetárias e o primeiro ‘live’ de Marte confirmou-o. Fizemos história… Mas a verdade é que nem fomos as primeiras pessoas a tentar ouvir Marte. Guglielmo Marconi tentou fazê-lo, através de ondas rádio”. 

O programa do segundo dia da GLEX Summit tem início às 09h45, novamente no Centro dos Congressos de Angra do Heroísmo, com o término da derradeira sessão previsto para as 18h30. 

Sobre a GLEX Summit:
A Global Exploration Summit (GLEX Summit) foi criada no âmbito da celebração do quinto centenário da primeira circum-navegação do mundo, comandada por Fernão de Magalhães. Em 2019, na edição de estreia, a organização e o painel de oradores assinaram a Declaração de Lisboa, firmando o compromisso com a exploração fundamentada na procura de conhecimento científico para o progresso da humanidade e de toda a vida na Terra e no universo.

Em apenas três edições, a GLEX Summit tornou-se a maior cimeira de exploradores à escala global, ao conseguir reunir um notável leque de oradores nas áreas da conservação da natureza, oceanos, Terra e Espaço, de que são exemplo lendas vivas da exploração e investigação como James Garvin, Brian Cox, Beverly e Dereck Joubert, Fabien Cousteau, Sian Proctor, Sylvia Earle, entre muitos outros. As dezenas de palestras conduziram os espectadores a uma viagem por descobertas vanguardistas, tendo sido apresentadas importantes missões científicas e tecnologias de ponta que têm impulsionado a Humanidade para novas fronteiras do conhecimento.

Por outro lado, a cimeira tem posicionado Portugal enquanto destino de boas práticas na conservação dos oceanos, na produção e partilha científica, assim como destino referência de inclusão e diversidade.

Certificação sustentável
A GLEX é um evento eco-responsável, com a certificação da gestão sustentável de eventos pela norma ISO 20121. Esta certificação foi atribuída à Expanding World pelo esforço empreendido em conjunto com o The Explorers Club de implementação de um sistema de gestão sustentável da cimeira.

Discovery+/HBO
Algumas das palestras da GLEX chegam ao Discovery+, a plataforma de streaming da Warner Bros. Discovery, numa série produzida para a multinacional americana que conta já com duas temporadas. Os episódios da terceira temporada, lançada brevemente, abrangem algumas das missões científicas e descobertas apresentadas no palco da GLEX, como os vulcões ativos no universo, a primeira Estação Espacial Comercial e os desafios e avanços da medicina espacial. Após a fusão da Discovery com a WarnerMedia, a plataforma de streaming tem cerca de 95 milhões de subscritores.