- Portugueses mostram-se à Europa num dia em que Gomez Noya confirma favoritismo
- João Pereira e João Silva, sexto e sétimo em prova de grande recuperação, mostram a sua força para o Rio; Vasco Vilaça fica à porta do pódio nos Juniores.
Javier Gomez Noya dissipou hoje quaisquer questões que pudessem existir acerca do momento de forma do 5 vezes campeão mundial, ao vencer com grande categoria a prova de Elite masculina do Campeonato da Europa de Lisboa — Médis 2016 Lisbon ETU Triathlon European Championship — e, assim, somar o quarto título europeu do currículo.
Noya cortou a meta com o tempo em 1:49.30, ou seja, com quase um minuto de avanço ao segundo classificado, Dmitry Polyanskiy (1:50.09). O suíço Andrea Salvisberg foi a medalha de bronze surpresa (1:50.32), facto a que não será alheio o carácter atípico desta prova com muitos atletas a testarem as pernas para a prova olímpica do Rio, em Agosto.
Numa competição em que a lenda espanhola do triatlo e grande candidato a uma medalha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro dividia as atenções do público com os portugueses que com ele alinharão na prova olímpica, ficou patente o potencial de João Pereira e João Silva que, fazendo uma prova de trás para a frente, terminaram em 6º e 7º lugar, respectivamente. Evidente também, o previsível desgaste de Miguel Arraiolos, que ainda há duas semanas estava a lutar pelo passaporte para o Rio e não foi além do 41º lugar.
Gomez Noya estava obviamente feliz pela vitória. Afinal, somou mais um título importante a um já riquíssimo palmarés e ainda fez um bom ensaio para o desafio do ano.
“Ao início, acusei o tempo que estou sem competir e a natação foi muito dura. E também na bicicleta tive de me aplicar. Felizmente, na corrida senti-me melhor, acabei por ganhar vantagem e, finalmente, venci a prova. Foi fantástico ganhar aqui e fazer um bom teste para os Jogos Olímpicos pois deixei para trás alguns bons atletas na corrida”, resumiu o campeão europeu e mundial.
Saldo positivo na festa do MEO Arena
Entre os portugueses, uma ideia comum: a gratidão pela festa proporcionada pelo muito público que, dentro e à volta do MEO Arena, foi incansável no apoio aos atletas.
Mas, entre todos os atletas nacionais, João Pereira e João Silva destacam-se pela agenda olímpica e por um optimismo temperado de alguma cautela.
“Foi uma boa competição, com alguma pressão, por ser em casa, perante o nosso público. Acho que ainda tenho muito trabalho para fazer, sobretudo na natação, mas a prova nos Jogos Olímpicos é só um dia e acredito que possa sair um resultado“, considerou João Pereira, acrescentando acerca da prova de hoje: “Procurei dar o meu máximo na natação, tive a infelicidade de não me conseguir colar no grupo da frente na bicicleta. Aí tentei resguardar-me um pouco e esperar um golpe de sorte que não surgiu. A partir daí, na corrida, foi tentar trabalhar com o João [Silva] para procurarmos a melhor posição possível.”
João Silva foi cauteloso quando surgiu a obrigatória questão olímpica, preferindo sublinhar o bom ambiente que se viveu durante todo o dia: “Foi muito positivo competir aqui neste ambiente espectacular. Quanto à prova, foi pena termos saído um pouco atrás na natação e na bicicleta ter faltado alguma comunicação no grupo, o que permitiu aos da frente ganhar uma vantagem significativa. Depois, fizemos uma boa corrida. Medalhas olímpicas? Todos os que lá estiverem terão, à partida, condições para conquistar uma medalha.”
Entretanto, Miguel Arraiolos assumiu o cansaço de quem esteve envolvido numa disputada campanha de qualificação olímpica:
“Já fui para a prova sem grandes expectativas pois sabia que não estava nas melhores condições pelo esforço que fiz na qualificação olímpica. Mesmo assim, consegui sair relativamente bem da água e acompanhar o segundo grupo no ciclismo, com o João Pereira e o João Silva. Mas na corrida a pé, como esperava, o corpo já não respondia. Mas foi uma boa experiência pelo carinho do público que nunca deixou de nos apoiar. Foi uma festa bonita.”
Entre os outros portugueses, Pedro Palma fez um notável 16º lugar, enquanto David Luis e Filipe Azevedo foram 50º e 51º, respectivamente.
A Coragem de Melanie
Na competição de elite feminina, as atenções focaram-se em Melanie Santos. A jovem portuguesa que esteve à beira de uma qualificação precoce para o Rio de Janeiro — com apenas 20 anos de idade —, apresentou-se também muito desgastada pela corrida aos Jogos e a isso juntou-se ainda uma inesperada indisposição gástrica. Assim, numa prova de grande combate, superou duas últimas voltas de grande sacrifício, terminando dentro do top-20 (19º).
A vitória na prova acabou por sorrir à inglesa India Lee (2:04.03), que fez um percurso de corrida notável, distanciando-se da concorrência até à conquista do seu primeiro título europeu, deixando no segundo e terceiro lugares do pódio a ucraniana Yulia Yelistratova e a húngara Zsófia Kovacs.
“Não desisti porque isso é para os fracos”, atirou Melanie Santos. “Não foi fácil, pois desde ontem estou um bocado adoentada e à segunda volta tomei um gel e desde aí as coisas foram piorando. Mas não quis desistir de forma nenhuma pois não queria desiludir o público que veio aqui para puxar por nós”, explicou.
Vilaça à beira do pódio
Na prova de juniores masculinos, Portugal esteve à beira do pódio, com Vasco Vilaça, de 16 anos, a não resistir ao sprint final depois de uma prova exemplar, em que veio de trás na bicicleta para, na corrida, integrar o grupo da liderança.
No final, acabou por ser o espanhol Javier Lluch Perez a conquistar o título europeu, enquanto a prata coube ao britânico Samuel Dickinson e o bronze ao dinamarquês Emil Hansen.
“Penso que fiz uma prova muito boa e adorei o ambiente. Foi quase perfeito, mas faltou um pouco para conseguir a medalha.”
Entre os outros juniores nacionais em prova, Tiago Fonseca foi 19º, Miguel Tiago Silva 27º e Duarte Brás, 53º.
Beaugrand campeã junior feminina
Na competição junior feminina, a francesa Cassandre Beaugrand sagrou-se campeã da Europa de juniores femininos, superando as alemãs Lisa Tertsch e Lena Meißner, segunda e terceira classificadas, respectivamente.
A melhor portuguesa foi Gabriela Ribeiro, de apenas 15 anos, na 30ª posição.
O dia de amanhã será dedicado à prova de Age Groups de distância olímpica, às estafetas de Elites e Juniores e, finalmente, à Open Race, prova aberta que, adequadamente, encerrará este Campeonato da Europa organizado sob o lema “Triatlo para Todos.”