Data: 22/05/19
O 6.º Fórum Vê Portugal terminou hoje, em Castelo Branco, depois de dois dias de debates vivos e interessantes sobre o turismo interno.
A manhã começou com um painel intitulado “Turismo no Interior do País – Ativos Diferenciadores”. Moderado pelo diretor do jornal Expresso, João Vieira Pereira, contou com intervenções de João Paulo Catarino, secretário de Estado da Valorização do Interior; Ana Abrunhosa, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro; Carlos Filipe Camelo, presidente da Câmara Municipal de Seia e da CIM Beiras e Serra da Estrela; António Fernandes, presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco; e Rodolfo Baldaia de Queirós, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior.
Os intervenientes focaram o discurso nos ativos diferenciadores que tornam – ou podem tornar – a região Centro de Portugal atrativa para os visitantes.
João Paulo Catarino destacou as enormes potencialidades do interior do país para atrair turistas. “No interior está a autenticidade do povo lusitano, temos é de continuar a encontrar formas de levar os fluxos de visitantes do litoral para o interior. Todos os territórios têm o seu canhão da Nazaré, é preciso descobri-los”, disse. Isso passa, continuou, por “aumentar os incentivos aos turistas que chegam a Lisboa ou Porto para visitarem outros territórios”. Necessário é também assegurar que “os turistas deixem retorno económico nos locais que visitam, que interajam com os habitantes locais”. “Não queremos que o interior seja apenas uma sala de visitas para quem passa”, frisou.
Ana Abrunhosa realçou os fatores que levam as pessoas a querer visitar as regiões de interior. “Autenticidade, liberdade, recordações, raízes… A maioria dos portugueses tem o coração aqui e quando aqui vêm sentem-se em família”, sublinhou. E são também fatores decisivos para os investidores, considerou: “Quando se investe, o coração é decisivo, não se investe só com uma folha de cálculo. O mais importante são as pessoas”.
Carlos Filipe Camelo frisou o facto de “aqueles que visitam a região da Serra da Estrela começam a fazê-lo todo o ano, o que não acontecia até há pouco tempo”. Isso deve-se “ao trinómio montanha, ambiente e produtos endógenos”, em que esta região é exemplar e que atraem cada vez mais pessoas e durante mais tempo.
Fatores que foram igualmente destacados por António Fernandes. “Temos clima, paisagens, património, sossego, cheiros, museus, património, gastronomia… Falta ligar melhor estes recursos. Felizmente, a oferta começa a ser complementar”, disse. Igualmente importante é o facto de que “o turismo começou a ser uma prioridade dos autarcas. Há uma vontade muito clara nesse sentido”.
O painel foi encerrado por Rodolfo Baldaia de Queirós, que enalteceu as potencialidades dos vinhos da Beira Interior, e que enunciou o próximo passo: uma Rota do Vinho da Beira Interior.
No painel seguinte conversou-se sobre “Turismo na Orla Costeira – Ativos Diferenciadores”. Conduzida por Rui Baptista, jornalista da Agência Lusa, a conversa teve como protagonistas Walter Chicharro, presidente da Câmara Municipal da Nazaré, Pinto Moreira, presidente da Câmara Municipal de Espinho, António José Correia, ex-presidente da Câmara Municipal de Peniche e Diretor da Fórum Oceano, e Marta Sá Lemos, diretora do departamento de cruzeiros da APDL – Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo.
Walter Chicharro apresentou a estratégia que tem colocado a Nazaré como um case study de sucesso internacional. Cavalgando a onda gigante do Canhão da Nazaré, a cidade tem conseguido atrair cada vez mais visitantes. Uma estratégia que, segundo o autarca, tem como pilar essencial “a comunicação”, a “realização de eventos” mediáticos e a “digitalização” da promoção. Como resultado, a Nazaré recebe visitantes durante todo o ano, combatendo o problema da sazonalidade.
Combater a sazonalidade tem sido igualmente uma estratégia há muito seguida pela cidade de Espinho, de acordo com Pinto Moreira. Desde logo com o casino, com a maior feira semanal do país, com o torneio de golfe mais antigo da Europa e com muitas outras iniciativas. No entanto, por estar na orla costeira, o autarca mostrou-se particularmente preocupado com as alterações climáticas e com o efeito que estão já a ter a nível da erosão da costa portuguesa.
António José Correia apresentou o projeto das Estações Náuticas como uma aposta decisiva no mar, enquanto ativo turístico importante. “Mobilizando os territórios, Portugal todo ele será náutico”, sublinhou. O congressista incidiu também a sua participação na dimensão do “ecoturismo”, que deve estar na base da estratégia turística nacional.
Marta Sá Lemos mostrou à audiência o caso de sucesso do porto de cruzeiros de Leixões, grande porta de entrada de turistas no norte do país.
Marques Mendes falou do futuro do turismo
À tarde, Luis Marques Mendes, advogado, comentador político e Conselheiro de Estado, brindou o Fórum Vê Portugal com uma interessante palestra dedicada ao tema “Binómio: Portugal para Viver, Portugal Destino Turístico”.
Marques Mendes começou a sua intervenção elogiando o Fórum Vê Portugal, que considerou ser “uma iniciativa muito feliz, importante e pertinente”.
Para o comentador, “o turismo é um dos ativos mais importantes para desenvolver o país”. Marques Mendes recusa que haja turismo a mais no país: “Antes turismo a mais do que turismo a menos”, sintetizou. E recordou alguns dados estatísticos: nomeadamente, que o turismo representa 9% do PIB nacional, é o maior setor exportador, é responsável por mais de 10% do emprego, e faz entrar no país cerca de 1 milhão de euros por hora.
“Só podemos orgulhar-nos desta mudança”, frisou Marques Mendes, que identificou quatro razões prioritárias para esta mudança. Em primeiro lugar, “reforçar a boa imagem do país no exterior”. “Portugal está associado a uma imagem de hospitalidade e de segurança que atrai visitantes”, sublinhou. Em segundo lugar, “potenciar grandes ativos estratégicos”, destacando entre estes “o clima, a gastronomia, a História ou a cultura”, entre outros. Para isso, é vital “apostar na qualificação dos recursos humanos”. “Não basta receber, é preciso receber bem. O turista atual é cada vez mais exigente, procura a excelência. E procura também a diversidade e a especificidade dos territórios”, considerou. A terceira razão é “a aposta sem preconceitos na iniciativa privada”. “É essencial que o Estado não estorve, que seja amigo dos investidores. O excesso de burocracia e de carga fiscal mata o investimento”, sublinhou. Finalmente, a quarta razão é “a aposta na imprensa internacional e no marketing digital”. “Ninguém liga à publicidade institucional, mas liga-se muito a um artigo ou reportagem sobre um destino que seja publicado na imprensa internacional. Isso atrai turismo”, referiu.
Marques Mendes recordou também que existem riscos que podem afetar a atividade turística. Nomeadamente, o risco de guerras comerciais a nível internacional, o risco de insegurança e terrorismo, o risco dos populismos, o risco das alterações climáticas ou o risco dos novos pobres e excluídos, entre outros. Acresce que, numa Europa “com uma crise de liderança”, “Portugal tem a vantagem de não ter nacionalismos nem clivagens”.
O Conselheiro de Estado concluiu a sua intervenção alertando para o facto de que “Portugal tem um grande desafio nos próximos anos: o desafio do crescimento”.
Conversa sobre a realidade das Entidades Regionais de Turismo foi um dos momentos altos
A colaboração entre as Entidades Regionais de Turismo, as autarquias e as Comunidades Intermunicipais foi um dos temas que marcou a tarde do segundo dia do Fórum Vê Portugal.
Em primeiro lugar, com uma breve palestra do secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel. Depois, com a mesa redonda “Promoção Turística Nacional – Que Modelo?”, moderada pelo presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, e em que participaram vários presidentes e dirigentes das regiões de turismo nacionais: João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve; Ricardo Valente, presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte de Portugal; Pedro Machado presidente do Turismo Centro de Portugal; António Ceia da Silva, presidente do Turismo do Alentejo e do Ribatejo; Vítor Costa, presidente do Turismo da Região de Lisboa; e Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Carlos Miguel foi o autor de uma intervenção a propósito da Lei-Quadro da Transferência de Competências para as Autarquias Locais e Entidades Intermunicipais. O governante subiu ao palco do Cine-Teatro Avenida para explicar os pormenores do diploma, nomeadamente a nível do Turismo. Carlos Miguel defendeu as virtudes da Lei-Quadro, que, no seu entender, permite estreitar a colaboração entre as entidades regionais do Turismo, as autarquias e as Comunidades Intermunicipais, aumentando a coesão nacional. Outra das vantagens que elencou é a possibilidade que abre de estes organismos concorrerem diretamente a financiamentos europeus.
Seguiu-se uma animada mesa redonda entre os protagonistas das regiões de turismo do continente. Uma ocasião rara, por ter juntado as várias regiões. Como referiu um membro da assistência, “era bom que este painel pudesse durar o dia todo”, pela pertinência das intervenções. Mais do que um dirigente sugeriu que os encontros entre todos passassem a acontecer de forma regular e articulada, na persecução de uma estratégia de promoção comum. “Temos muito mais a unir-nos do que a separar-nos”, sublinhou Pedro Machado.
E foi essa estratégia de promoção comum, ou articulada, que esteve na base de várias intervenções, intercaladas com apresentações da realidade atual das regiões de turismo. As dificuldades na estruturação de produtos turísticos que abarcam mais do que um território, ou os desafios que o futuro coloca às entidades, foram alguns dos temas centrais da conversa.
Os dois dias de intensos e aliciantes trabalhos terminaram com a Sessão de Encerramento, no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco.
Luís Correia, presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, deixou elogios à organização do evento. “O Fórum Vê Portugal passou a ser uma referência para nós a partir de hoje. É uma honra ter-vos recebido”, sublinhou. O autarca recordou que “Castelo Branco não tem uma tradição forte a nível do turismo”, uma situação que tem vindo a reverter com aposta em “produtos turísticos, em cooperação com concelhos vizinhos”.
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português, salientou o facto de o Turismo “viver um momento desafiante”. “Os últimos cinco anos foram muito bons. Portugal é o 14.º destino turístico mais competitivo do mundo, o que significa que está na Champions League. Acredito que ainda há condições para aumentarmos o crescimento de visitantes, em especial nas regiões de interior”, considerou.
Coube a Pedro Machado encerrar os trabalhos. Depois de agradecer à autarquia e ao Instituto Politécnico de Castelo Branco, o presidente do Turismo Centro de Portugal realçou o sucesso que constituiu esta edição do Fórum Vê Portugal e sublinhou o muito que foi conseguido durante os dois dias. “Atingimos o mais volumoso número de inscrições de sempre deste evento. Este Vê Portugal é uma aposta ganha na indústria do turismo e constitui um marco no debate sobre o mercado interno. Além disso, reforçou os laços entre os agentes privados e públicos, por um lado, e entre territórios, por outro”, finalizou.
Sobre o Turismo Centro de Portugal:
O Turismo Centro de Portugal é a entidade que estrutura e promove o turismo na Região Centro do país. Esta é a maior e mais diversificada área turística nacional, abrangendo 100 municípios, e tem registado um intenso crescimento da procura interna e externa. É a região a escolher para quem pretende experiências diversificadas, pois concilia locais Património da Humanidade com a melhor costa de surf da Europa, termas e spas idílicos, locais de culto de importância mundial e as mais belas aldeias.