Os dados estão lançados… Os Açores não podem tornar-se num destino turístico massificado. O número de visitantes a locais estratégicos tem de ser controlado, pois só assim será possível garantir ou mesmo reforçar a sustentabilidade do território. A região tem de ser comunicada como um produto de experiência(s) singular(es) e é absolutamente decisivo reforçar a aposta na digitalização e na formação. Eis as principais reflexões do VisitAzores Tourism Forum. Uma iniciativa que procurou fazer uma reflexão sobre o futuro do turismo na região e que contou com a participação de especialistas ligados ao turismo e não só, mas também de diversas entidades regionais.
“Creio que precisamos no país e, também na região, de dar um passo muito significativo e qualitativo na matéria do inquérito e do conhecimento dos que nos visitam e das experiências que valorizam aqui nos Açores. Não faz qualquer controvérsia podermos, num determinado spot de natureza, com a fragilidade que lhe reconhecemos, limitar o tempo de visita e o número de pessoas, com o objetivo de proteger e valorizar o espaço de visita. Eu estou convencido que isto bem esclarecido, bem informado, bem explicado, nos permitirá ter a adesão e a empatia desta gestão e controlo da nossa oferta turística, sobretudo aquela mais relacionada com a natureza frágil que temos para oferecer aos nossos visitantes.” As palavras são do Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, que encerrou a edição de estreia do VisitAzores Tourism Forum.
Os Açores são um dos mais singulares e belos destinos turísticos do mundo e, também por isso, são muitos os desafios que enfrenta. Contrariar a massificação é só uma das estratégias que a ATA – Associação Turismo dos Açores está determinada em desenvolver, como sublinha Luís Botelho, o seu diretor executivo: “A massificação dos principais pontos de interesse turístico é algo preocupante, não só numa perspetiva de sustentabilidade ambiental, mas também social. Por isso, a exemplo de outras regiões do planeta, como o Butão ou Fernando de Noronha, no Brasil, os Açores podem começar a pensar em limitar a entrada de não residentes, impondo o pagamento de uma taxa de emissão de visto, que varie de acordo com a duração da estada (quanto maior a duração menor o valor). Uma taxa que pode ser investida na melhoria da rede de transportes públicos, da rede de abastecimento de energia elétrica e na conservação dos locais de interesse turístico. Estas e outras medidas são de extrema relevância para os Açores, que se desejam ainda mais sustentáveis, tanto a nível social, como económico e ambiental.”
Mas se a edição de estreia do VisitAzores Tourism Forum deixou bem clara a pertinência da tomada de medidas que evitem a massificação do destino turístico Açores, a verdade é que a iniciativa promoveu a discussão e a reflexão de muitos outros temas que são absolutamente decisivos para o futuro da região, seja a nível ambiental, social ou mesmo económico.
O secretário Regional do Turismo dos Açores, Mário Mota Borges, destacou: “Fomos a região do país que mais cresceu em número de dormidas nos nove primeiros meses do ano”. O mesmo responsável, para além de ter sublinhado os vários prémios conquistados pela região, garantiu: “Em 2022, teremos uma diversidade inédita de companhias aéreas a voar para os Açores, consolidando a região como um destino de natureza e experiencial, que se diferencia por um modelo de turismo sustentável. Um destino singular, cuja proposta de valor assenta na sustentabilidade, nas suas qualidades naturais, nas pessoas e nas tradições das diferentes ilhas.” Quanto ao futuro, Mário Mota Borges, afirmou: “Teremos de investir na digitalização do sector. É fundamental caminharmos para um modelo de turismo inteligente, em que as decisões sejam suportadas por dados fidedignos e atualizados. Acreditamos na importância desses dados para prosseguirmos uma estratégia de diversificação e de valorização do destino, com dispersão dos fluxos turísticos por todas as ilhas e, tendencialmente, ao longo de todo o ano.”
Carolina Leñero viajou até aos Açores para apresentar a estratégia de turismo que a Costa Rica tem desenvolvido nos últimos anos e que até permitiu ao território da América Central receber o prémio de Melhor Marca País do Mundo. Para a Diretora da Marca País da Costa Rica, “o país perfeito não existe. Temos de construí-lo através dos nossos valores, das políticas públicas, da nossa cultura, da nossa identidade. Costa Rica é muito mais do que a natureza camufla e estou convencida que os Açores são iguais.”
José Filipe Torres, CEO da Bloom Consulting, uma empresa portuguesa especializada na criação de estratégias de marcas territoriais (parceira do Turismo dos Açores e do Turismo da Costa Rica), defendeu: “Há uma série de semelhanças entre os Açores e a Costa Rica, não apenas pela identidade, mas pelo espaço em si. Quando falo numa marca país ou numa marca região (place branding), penso na emoção e nas sensações que despertam. No impacto social e económico que tem, pois assenta numa ideia central E por que é importante desenvolver uma estratégia de marca? É que quanto melhor for a perceção, mais interesse há em visitar o sítio. Por isso, é importante definir uma estrutura, as bases de um projeto. Depois entender as perceções existentes e definir uma ideia central. Muitas vezes não é inventar, é descobrir onde ela está, é ser coerente, é ter uma estratégia. Depois é chegada a hora de ser criativo e determinar quais os programas e projetos que serão mais eficazes a alcançar os objetivos. Também é importante envolver todos os atores locais, pois não conseguimos fazer tudo sozinho. Por fim, é importante monitorizar e avaliar a marca e não deixar de olhar para o ‘place branding’ na forma de uma versão 2.0.”
Filipe Silva, vogal do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, sublinhou: “É importante ter a perceção do que as pessoas que nos visitam procuram, para perceber se estamos a ir ao encontro do que são as suas expetativas.” Mas para além desse ponto, fez questão de recordar que “90 e muitos por cento do que é o tecido empresarial do setor do turismo é composto por micro e pequenas empresas, com importantes desafios ao nível da capacitação e recursos disponíveis, para fazer face aos desafios. Por isso, se não fizermos bem o trabalho de casa em termos de intervenção do território (com preparação e capacitação) e se não promovermos uma boa articulação entre todos os atores que nele intervêm, não estamos a preparar-nos para receber da melhor forma os turistas que nos visitam.”
Enquanto diretor executivo da ATA – Associação Turismo dos Açores, Luís Botelho também foi um dos oradores do VisitAzores Tourism Forum. “Qual o caminho a seguir?” Esta foi uma das questões que colocou. “Na clarificação da marca e da estratégia do turismo é essencial envolver os atores locais de todas as ilhas na definição dos valores da Marca. Temos de definir um posicionamento de marca claro, diferenciado, que seja utilizado e partilhado por todos. Devemos criar um plano de ação que ao ser implementado construa uma marca Açores eficaz, de alta notoriedade, mas sustentável. Por outro lado, temos de criar notoriedade e definição do turismo. A notoriedade do destino Açores, que ainda é limitada, é essencial para um estímulo relevante da procura turística pelo arquipélago. É, no entanto, necessário garantir o correto posicionamento para uma perceção clara dos atributos do destino Açores. Outro aspeto importante é a fundamentação da decisão do investimento. O acesso à informação para suporte à decisão é fundamental para implementar um processo de decisão baseado em informação e dados concretos e não em expectativas baseadas em perceções não quantificadas. Neste contexto está a ser realizado um trabalho de automatização no tratamento de um conjunto de informação de onde se destaca: estatísticas SREA, ANA Aeroportos, SIBS, ForwardKeys, Google Analytics, Digital Demand, Digital Supply, etc. Por último, em relação às acessibilidades aéreas, tem sido feito um trabalho contínuo de captação de novos operadores aéreos e de novas rotas com operadores existentes. A disponibilização de capacidade aérea é essencial atendendo à situação contextual dos Açores.”
Mas Luís Botelho não terminou a intervenção sem adiantar uma importante novidade: “Em 2022, vai haver um novo visitazoares.com. Um site renovado, com imagem moderna, muito mais inspiracional, muito rico em conteúdos. Assim, vamos marcar uma nova etapa ao nível da promoção.”
Sérgio Carvalho, diretor de marketing da Fidelidade, desenvolveu o tema “digitalização” no VisitAzores Tourism Forum. “Em matéria de digitalização, nós não somos comparados com os nossos concorrentes, mas sim com as melhores experiências que existem no mercado, como a Uber ou a Amazon. Tudo isto cria expetativas no consumidor ao nível do serviço, da qualidade, da rapidez, da agilidade e do acesso a plataformas. Por isso, temos de conseguir prestar o
melhor serviço e proporcionar a melhor experiência a todos, em qualquer momento, em qualquer lugar. Temos de conseguir criar ou manter uma relação personalizada, mesmo à distância e de ter em conta que a transformação digital não se resume à inovação tecnológica.”
Óscar García-Cosuegra, Audience & Data Director da CAETSU TWO, uma das maiores agências de publicidade a trabalhar em Portugal, falou da importância dos dados na comunicação dos destinos e dos Açores, em particular. Nesse sentido, destacou: “Os dados estão na base de toda a transformação digital” e, por isso mesmo, partilhou alguns interessantes sobre os Açores: “A principal motivação de quem entra em visitazores.com é a ‘Aventura’, seguido das ‘Viagens em família’ e dos ‘Parques’. Em 2019, 67 por cento dos turistas que desembarcaram nos Açores fizeram-no entre maio e setembro. É importante fazermos um ajuste sazonal para uma maior eficácia e mais sustentabilidade. A gastronomia pode ser um eixo estratégico. Setenta e cinco por cento dos turistas afirmam ter feito uma viagem gastronómica nos dois últimos anos. Sessenta e dois por cento dizem que a gastronomia tem influência nas suas viagens, enquanto cinco por cento assume que faz uma viagem gastronómica internacional, por temporada.” Por outro lado, “os utilizadores do visitazores.com procuram híbridos nos rent a car, enquanto a hotelaria tem de estar cada vez mais atenta aos vegetarianos. A digitalização é o desafio. Digitalize ou morre. A batalha está na internet. Há estudos que dizem que, antes de viajar, uma pessoa vê cinco conteúdos diferentes de turismo. A digitalização aumenta a relevância, as vendas e a fidelização.”
Paulo Humanes, Diretor da Unidade Automóvel, Mobilidade e Cidades do CEiia, desenvolveu o tema “Smart Destinations – Mobilidade e Sustentabilidade”. O primeiro automóvel nasceu há 135 anos e Paulo Humanes acredita que “estamos num ponto de transição como na época, em que estamos a fazer uma transição de tecnologia. E não é apenas uma tecnologia, mas uma combinação de tecnologias que vão fazer esta transformação. A mobilidade partilhada é a chave e já está a ser uma solução, não tanto para os locais, mas sim para os turistas, com automóveis, motos, trotinetes elétricas e até com bicicletas elétricas. Ou seja, o importante é termos acesso a um meio de mobilidade que seja o mais adequado às nossas diferentes necessidades.” Mas se a mobilidade partilhada pode e deve ser implementada nos Açores, há outras ideias que o Diretor da Unidade Automóvel, Mobilidade e Cidades do CEiia apresentou: “No CEiia criámos uma ideia que se chama AYR – Are You Ready. A ideia é tentar medir as emissões que poupamos e transformar essas poupanças numa criptomoeda. E, através dela, conseguir fazer um mercado local de carbono, onde possa ser transacionada. Por exemplo, em Matosinhos, onde está implementado o primeiro protótipo do AYR, quem usar uma bicicleta pode pagar parte do imposto municipal com o AYR. E porque não pensar nos Açores como uma experiência onde se possa ter um mercado de carbono? E isso não tem de ser necessariamente individual. Os turistas podem usar e até os operadores podem demonstrar o seu empenho em sustentabilidade.”
Gonçalo Trindade, da Direção Regional da Ciência e Transição Digital dos Açores, afirmou: “O digital não vai resolver todos os problemas, vai ajudar a resolvê-los. No centro da transformação estão as pessoas e se as pessoas não compreenderem como é que o digital e as tecnologias poderão ajudá-las e a beneficiarem os seus negócios, dificilmente a transformação se fará. A nossa visão é termos uma região digital, mas preservando e tendo o cuidado de potenciar as tradições, os costumes, a identidade, a cultura e sem deixar ninguém para trás. Mas como é que vamos enfrentar os desafios que temos pela frente? Um dos pilares em que vamos apostar é na educação. O nosso sistema de ensino tem de ter a capacidade de se adaptar, de evoluir, de dar às crianças de, hoje, a capacidade de, no futuro, analisarem os problemas que vão ter e de resolvê-los. E temos de ter a capacidade de atrair recursos humanos especializados, em sintonia com os centros de investigação que temos nos Açores.”
Sublinhe-se que, no âmbito do VisitAzores Tourism Forum, também foram promovidas Master Classes para os associados da ATA – Associação Turismo dos Açores. Sessões que contaram com uma adesão muito significativa e onde foi partilhada informação e diferentes ferramentas decisivas para a digitalização e profissionalização das empresas e dos profissionais do setor do turismo.
Sobre a ATA
A Associação Turismo Açores – Convention and Visitors Bureau promove o destino Açores como destino turístico de Natureza, com uma forte componente experiencial, nos mercados emissores estratégicos. O objetivo é aumentar de forma sustentada o volume de dormidas em todas as ilhas dos Açores, bem como o aumento de receitas para todos os stakeholders do setor da atividade turística.