Sustentabilidade e descarbonização são palavras que de forma persistente fazem parte do nosso léxico da última década. No setor automóvel estes conceitos assumem ainda maior importância pelo facto de a mobilidade ser um dos maiores “contribuintes” para as emissões poluentes, nomeadamente de CO2, que estão associadas ao aquecimento global e à emergência climática. Mas o desígnio de uma mobilidade mais sustentável e descarbonizada não será possível sem uma ambiciosa transição energética global, que nos liberte da dependência dos combustíveis fósseis.
O debate sobre a forma e a velocidade dessa transição energética foi um dos pontos fortes desta 6ª edição do Fórum Nissan para a Mobilidade Inteligente.
Consciente do seu papel como ator da mudança do paradigma da mobilidade a Nissan Portugal apresentou, pela voz de Antonio Melica, o seu diretor-geral, o plano do fabricante para a implementação de uma mobilidade completamente descarbonizada, mas não só.
A Nissan assume como sua a filosofia do conceito japonês Kabuku que se pode traduzir como o desafio do status quo, e de ousar fazer aquilo que nunca ninguém fez.
Foi exatamente a aplicação deste conceito que esteve na origem do pioneirismo da Nissan na introdução da mobilidade elétrica a nível mundial e nos anúncios feitos neste fórum:
- Um ambicioso plano de eletrificação da sua gama. Já em 2023 toda a gama de modelos estará eletrificada;
- Um compromisso com a redução dos custos associados à atual geração de baterias para automóveis elétricos e do desenvolvimento e introdução no mercado, num horizonte de 6 anos, de uma completamente nova geração de baterias de estado sólido para automóveis elétricos, com uma duplicação da densidade energética face às atuais baterias de ião-lítio e com tempos de carregamento que dividem por três os atuais;
- O anúncio da construção de uma gigafactory (fábrica de baterias) na Europa;
- Um plano de investimentos em fontes de produção renováveis que levará a que no curto prazo as fábricas de Sunderland e a gigafactory serão totalmente alimentadas por eletricidade proveniente de fontes renováveis.
Em jeito de conclusão ao anúncio feito Antonio Melica declarou: «o nosso investimento na eletrificação da gama já atingiu os 7,8 mil milhões de euros, mas nos próximos cinco anos vamos duplicar este valor e prevemos atingir os 15,6 mil milhões. Este plano faz parte do nosso compromisso de atingir até 2050 a completa neutralidade carbónica da nossa atividade global».
Se é verdade que descarbonização e sustentabilidade fazem parte do nosso léxico quotidiano desde há vários anos, porque é que este tema ainda permanece tanto na ordem do dia e a sua discussão é mais premente que nunca?
Talvez a melhor ilustração da problemática seja a que foi dada por António Coutinho, presidente da EDP Inovação, na sua intervenção sobre “Os Desafios da Transição Energética”.
Perante a pergunta “o que é que vos aconteceria pessoalmente se amanhã deixasse de haver petróleo?” a resposta mais comum talvez fosse “eu deixaria de andar de carro!”. Mas a verdadeira resposta é “morreríamos todos à fome”!
«A realidade atual é que nosso mundo gira em torno do petróleo e sem o petróleo seríamos incapazes, por exemplo, de produzir e transportar os alimentos para a população mundial», afirmou António Coutinho.
Por outro lado, sabemos que a atual trajetória de aquecimento global é insustentável, sob o risco de ultrapassarmos o limite de aumento da temperatura de 2º que é o limiar a partir do qual é impossível ter a certeza de todas as consequências para a nossa forma de viver e dos impactos que tal aumento teria nos ecossistemas.
Se hoje é impossível viver num mundo sem petróleo, para António Coutinho «é obrigatório mudar o paradigma e acabar com a dependência dos combustíveis fósseis para acelerar a transição energética para a eletricidade. Atualmente 83% das emissões provêm do consumo de energia. A mobilidade, que representa 19% das emissões, é a grande consumidora de petróleo. É aqui que temos de atuar rapidamente, até porque a tecnologia já existe».
Apesar da dimensão do desafio, a conclusão do debate sobre a transição energética tem de assentar numa nota positiva.
«Há 15 anos no mundo investiam-se cerca de 50 biliões de dólares por ano na transição energética. O ano passado este investimento foi de 755 biliões de dólares. O principal destino deste investimento é a área das energias renováveis logo seguida pela área da eletrificação dos transportes. E está previsto que já este ano a eletrificação dos transportes seja a principal área dos investimentos na transição energética», concluiu o responsável da Inovação na EDP.
O caminho percorrido em Portugal tem sido, neste domínio da transição energética, bastante positivo apesar de algumas dificuldades e entraves relacionados com questões legais e de licenciamentos, alertou António Sá da Costa, presidente da European Renewable Energies Federation, e também presente neste Fórum.
Na sua intervenção Alexandre Fernandes, administrador-executivo da Entidade Nacional para o Setor Energético E.P.E. (ENSE) mostrou que os poderes públicos estão conscientes da necessidade de agilização e rapidez nas aprovações e legalizações de projetos destinados à implementação de, por exemplo, energias renováveis, ao declarar que «o nosso desafio, como entidade pública, é o de colocar o Estado como acelerador da mudança para a transição energética».
A mobilidade do futuro será tão mais “inteligente” e sustentável quando mais rápido for o ritmo desta indispensável transição energética. E a atual situação portuguesa permite encarar o futuro com algum otimismo.
Segundo António Sá da Costa «ter a eletricidade em Portugal 100% renovável não é fácil, mas é possível. Assim haja vontade política e capacidade de coordenar as diferentes tecnologias de produzir eletricidade, de forma a encontrar o ótimo nacional e não os ótimos de cada um dos produtores, sem colocar em causa a livre concorrência e as condições do mercado».
A eletrificação dos transportes está a ponto de se tornar o maior destino dos investimentos realizados a nível mundial no âmbito da transição energética o que demonstra que todo este setor dos transportes e, acima de todos o automóvel, está consciente das suas responsabilidades e do contributo que tem de dar para a descarbonização do planeta.