A partir do mote “What’s Next?”, a GLEX Summit está de volta à descoberta, dedicando quatro dias a tudo o que se passa além dos limites da terra, dos oceanos e do espaço, naquela que é já considerada a “Davos” da exploração mundial. O primeiro dia da cimeira foi centrado no futuro da exploração espacial e nos oceanos.
Este encontro absolutamente inédito a nível global junta até à próxima quarta-feira, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, as principais “lendas vivas” da exploração científica, apresentando mais 40 painéis e oradores de 16 países, vindos dos cinco continentes.
José Manuel Bolieiro, presidente do Governo Regional dos Açores, abriu o programa deste primeiro dia, destacando a importância deste evento para potenciar o desenvolvimento do arquipélago através da sustentabilidade: “Sentimos a sustentabilidade como parte da nossa história, porque gostamos de proteger a nossa natureza, a nossa biodiversidade e a nossa paisagem. Os Açores são um exemplo para o mundo do que podemos e devemos fazer para proteger o nosso planeta. Podemos ser uma região ultraperiférica, mas hoje, na abertura desta cimeira, sentimo-nos no centro do mundo”, afirmou José Manuel Bolieiro, na sessão de abertura da GLEX Summit, esta segunda-feira, no Teatro Micaelense.
Rita Marques, Secretária de Estado do Turismo, confessou, também na sessão de abertura, que não conseguiria imaginar “melhor local do que os Açores para receber esta cimeira”, lembrando que sustentabilidade tem sido, desde há vários anos, uma das grandes apostas do Turismo de Portugal para promover o país. “Não podemos viajar sem cuidarmos do planeta onde vivemos”, sublinhou.
Cientistas, astronautas, vulcanólogos, aquanautas, biólogos, conservacionistas, geocientistas, exploradores e investigadores, das mais diversas áreas, passaram pelo palco do Teatro Micaelense para partilharem, na primeira pessoa, as descobertas mais recentes e as tecnologias que estão a impulsionar o mundo e “a abrir caminho a uma nova era dourada da exploração”, como referiu Richard Garriot, astronauta privado e presidente do The Explorers Club, a mais antiga agremiação de exploradores do mundo.
Navegar pelos oceanos cósmicos
Inspirado pelo legado de Fernão Magalhães, James Garvin subiu ao palco para revelar as grandes missões que a NASA está a preparar a próxima década, incluindo o regresso à superfície de Vénus, depois da última missão em 1985. “É um regresso entusiasmante, porque temos agora outro tipo de ferramentas e tecnologias avançadas que nos permitirão estudar a fundo as suas origens. Tal como a Terra, Vénus também já foi um planeta de oceanos há muitos milhões de anos, pelo que é crucial percebermos o que levou ao seu desaparecimento”, explicou o cientista-chefe da agência norte-americana e líder da missão DAVINCI a Vénus.
“A nossa missão será lançada em 2029, voará duas vezes ao redor do sol, mapeando Vénus em cada uma das vezes, e aterrando em junho de 2031”, pormenorizou. A missão permitirá também medições de gases não descobertos, incluindo componentes que poderão ajudar a revelar a presença de água.
Com um calendário mais próximo de se concretizar está o ambicioso projeto da privada Axiom Space para a construção da primeira estação espacial comercial. “É um novo capítulo que se inicia no ecossistema espacial e que vai multiplicar as possibilidades de expandirmos o nosso conhecimento do universo”, garante Michael López-Alegría, antigo astronauta da NASA e atual vice-presidente da Axiom Space.
“A nova estação, que de início estará acoplada à atual Estação Internacional (ISS), será construída por fases, entre 2024 e 2028. Incluirá um módulo para habitação, outro para pesquisa e um terceiro para garantir a energia e funcionamento de toda a estrutura. Não será apenas para levar pessoas ao espaço. Será, sobretudo, para levar investigadores que possam testar e construir algo em ambiente de microgravidade”, destacou.
A estratégia dos Açores para o espaço, que será em breve reforçada com a construção do primeiro “Space Port” na ilha de Santa Maria, os os vulcões extraterrestres descobertos por Rosaly Lopes, nas luas geladas de Júpiter, assim como a arte e a inclusividade no espaço, foram outros dos temas em destaque na sessão da manhã.
Futuro do planeta passa por oceanos saudáveis
Durante a tarde, voltamos à Terra e mergulhamos nos oceanos profundos, à boleia de alguns dos principais especialistas em conservação e proteção da vida marinha, como a cientista Rachel Graham, que alertou para a necessidade de repovoar os oceanos com tubarões, a biólogo Edie Widder, que se dedica à exploração de espécies em águas profundas, ou o premiado biólogo Austin Gallagher, também conhecido como o “rei dos tubarões-tigre” e cujos avós eram pescadores nos Açores.
Neste segundo painel, passaram também pelo palco o ecologista marinho Jorge Fontes, investigador na Universidade dos Açores, e o ecologista e também investigador Emanuel Gonçalves, que alertou para o apocalipse da extinção de espécies marinhas e para os efeitos da crise climática nos oceanos. Membro da Fundação Oceano Azul, Emanuel Gonçalves apresentou ainda o projeto que está a ser desenvolvido ao largo das ilhas Selvagens, atualmente já a maior área marinha protegida em todo o Atlântico Norte.
Segundo dia da GLEX Summit dedicado ao planeta Terra
Esta terça-feira, o segundo dia da Global Exploration Summit será inteiramente dedicado à Terra e aos desafios no aproveitamento de recursos que ajudem a resolver os problemas atuais e futuros da humanidade.
O painel inclui nomes como a bióloga Leela Hazzah, o paleontólogo Keneth Lacovara, o casal de conservacionistas Dereck e Beverly Joubert ou os exploradores polares Borge Ousland e Jerome Chappellaz. Neste segundo dia, a GLEX Summit traz também aos Açores o testemunho da Colossal Biosciences, a empresa que se propõe ressuscitar geneticamente populações inteiras de mamutes extintos há milhares de anos.
Paralelamente ao programa da cimeira no Teatro Micaelense, a GLEX Summit vai também realizar esta terça-feira uma visita ao Faial e ao Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos que juntará a elite dos cientistas da NASA.