O dia inaugural da 1ª Convenção Nacional dos Serviços suscitou inúmeras reflexões, mas também uma certeza: os serviços terão um papel cada vez mais preponderante na economia mundial e Portugal não é exceção. Uma ideia corroborada logo na sessão de abertura pelo primeiro-ministro António Costa: “Hoje, 68% das empresas da economia portuguesa e 44% dos postos de trabalho já são do sector dos serviços! Os sectores mais tradicionais da economia nacional adaptaram-se, mas o que fez a diferença, em todos esses casos, foi a incorporação dos serviços na produção desses bens.”
Também na sessão de abertura, João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços Portugal, destacou que “as vantagens competitivas de Portugal são a localização geográfica e o capital humano e não há dúvida que os serviços têm um papel cada vez mais preponderante no novo paradigma económico.”
O francês Nicolas Colin, professor universitário, investigador e autor de um relatório sobre o sistema fiscal e a economia digital encomendado pelo Governo francês começou por sublinhar. “A relação entre as empresas e os consumidores mudou! Os consumidores não são ‘massas’ passivas, com todos a quererem o mesmo. Há multiplicidade, cada um tem as suas necessidades”. O grande desafio que se coloca a todos os Governos “é o de ‘inventar’ novas instituições, novos modelos essenciais para criar empregos e criar uma economia mais inclusiva.” Em relação a Portugal, o francês reconheceu que “é um país pequeno, comparado com a França, Alemanha ou Inglaterra, sem os recursos de que outros dispõem, mas na economia digital o paradigma é diferente. Na revolução tecnológica será mais fácil para um país pequeno, como Portugal, não se cingir apenas ao seu próprio mercado.”
Uma reflexão que também foi partilhada por José Félix Ribeiro. Para o economista, “Portugal tem que apostar em novos polos de conhecimento e novas competências. Por exemplo, podemos ser uma plataforma de acolhimento, lazer e saúde; uma plataforma de serviços às empresas e desenvolvimento de conteúdos digitais; uma plataforma de conceção e fabrico de produtos complexos e novas soluções para as cidades; é nisto que temos que empregar o nosso valor acrescentado”.
Para Augusto Mateus, “a evolução do mundo nos últimos 30 anos destruiu as fronteiras dos sectores como eram entendidos tradicionalmente: agricultura, industria, serviços. Hoje, o que é importante não é a economia da quantidade, mas a economia do valor. Onde as famílias mais gastam os seus orçamentos é, na maioria dos casos, relacionado com os serviços. Gastamos em lazer, cultura, serviços distintivos, mais do que nos bens essenciais e é isto que deve ser tido em conta e é isso que coloca os serviços no centro da economia.” O antigo ministro da economia não terminou a sua intervenção sem sublinhar que, “nas exportações da indústria e agricultura portuguesas estão mais serviços do que bens. A verdade é esta! Os serviços estão incorporados e têm um enorme peso nas exportações nacionais.“
Já Francisco Veloso, líder da Católica Lisbon School of Business and Economics, destacou o facto de, “hoje, o consumidor, os investigadores e a comunidade em geral, podem (e devem!) ter grande participação na conceção e desenvolvimento de produtos e serviços. Por exemplo, a Lego usa os seus utilizadores avançados para que estes possam submeter, através de uma plataforma online, as suas ideias, sugestões e propostas de design. A Lego não se limita às centenas de colaboradores que tem no seu departamento de desenvolvimento, faz mais do que isso: utiliza os milhões de consumidores/utilizadores que tem pelo mundo.” Mas o ainda sublinhou o fenómeno de “plataformas como as de alojamento/turismo online e traduções online, exemplos perfeitos de que é preciso explorar estes novos caminhos da economia digital, que é a economia que acontece e existe hoje.”
Por sua vez, Florbela Lima, da EY, apresentou as principais conclusões de um estudo feito por esta consultora para a CCP e para o Fórum dos Serviços. Um trabalho que, oportunamente, vai ser divulgado na íntegra.
Os transportes e o posicionamento geoeconómico do país foram o mote para um animado debate que envolveu o professor Mário Lopes, a Presidente da Associação Portuguesa de Portos Lídia Sequeira e um conjunto de responsáveis de entidades ligadas aos transportes.
Segundo o professor Mário Lopes, “a sistema de transportes, tal como existe, baseado na rodovia, é insustentável devido aos impactos ambientais. O objetivo da União Europeia é que 50% desse transporte passe a ser feito por ferrovia e transporte marítimo.”
Para Lídia Sequeira, Presidente do Porto de Sines “o crescimento marítimo em Portugal esteve em contraciclo nos anos de maior crise e isso foi um facto que surpreendeu toda a gente. Nos últimos 10 anos tivemos um crescimento de 42% na carga total e 180% na carga contentorizada.”
Amanhã, sexta-feira, o programa da 1ª Convenção Nacional dos Serviços tem início às 09h30, com o painel “As Cidades, os Serviços e a Atratividade de Não Residentes” e os oradores: João Ferrão (Geógrafo, Investigador no ICS da Universidade Lisboa) e António Pires do Santos (Director da IBM, responsável pelas Smart Cities em Portugal). Segue-se o painel “As Políticas Públicas e o Sector dos Serviços”, com os oradores: Armindo Silva (Economista e Investigador, Ex-Quadro Dirigente da Comissão Europeia e José António Barros (Presidente da Estrutura de Missão para a Recapitalização de Empresas)
O Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, juntamente com João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços Portugal, encerram a iniciativa promovida pelo Fórum dos Serviços, em colaboração com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP).
SOBRE O FÓRUM DOS SERVIÇOS
O “Fórum dos Serviços para uma Especialização Inteligente da Economia Portuguesa”, criado em 2014 por iniciativa da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), é um espaço de debate, estudo e reflexão sobre o Sector dos Serviços e sua importância, tanto na economia portuguesa, como na economia globalizada, a uma escala mundial.
Além da discussão em torno das problemáticas do Sector dos Serviços, o Fórum tem por objetivo apresentar propostas de política pública que contribuam para reforçar a capacidade competitiva das nossas empresas no exterior. A realização de estudos sobre o sector, na perspetiva da inserção deste num novo modelo económico para Portugal, é outra atribuição do Fórum.
O Fórum dos Serviços é composto por diversas associações, empresas e pessoas singulares que têm dado o seu contributo ao longo dos últimos anos e continuam a trabalhar na promoção de uma cultura de cooperação entre os vários agentes do sector.