- Depois de uma jornada dedicada às novas fronteiras do espaço e às descobertas e oportunidades que se escondem sob os oceanos, o segundo dia da GLEX Summit foi dedicado à Terra e ao futuro do nosso planeta
- A conservação da natureza, a proteção da vida selvagem, os fósseis do passado, as proteínas do futuro, a crise climática e as novas fronteiras da engenharia genética foram alguns dos temas trazidos ao palco do Teatro Micaelense ao longo desta terça-feira
- O programa paralelo da maior cimeira de exploradores do mundo incluiu ainda uma visita ao Vulcão dos Capelinhos na ilha do Faial, num encontro irrepetível que juntou a elite dos cientistas na NASA
Com os pés no passado e os olhos no futuro, o segundo dia da Global Exploration Summit foi repartido entre as ilhas de São Miguel e do Faial, com o Teatro Micaelense a acolher um conjunto de dez apresentações dedicadas ao planeta Terra, enquanto o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, no Faial, recebia a visita de um grupo restrito de convidados, para um encontro, talvez irrepetível, entre a elite dos cientistas da NASA e os responsáveis do Geoparque Açores.
Depois de um primeiro dia em que o foco das apresentações se centrou no futuro da exploração espacial e nos desafios e oportunidades que se escondem sob os oceanos, o segundo dia da Global Exploration Summit foi dedicado ao planeta Terra e aos problemas atuais e futuros da humanidade, como a proteção das espécies ameaçadas, cujo declínio se tem acentuado perigosamente nos últimos anos, a preservação e conservação dos ecossistemas ou os efeitos irreversíveis da crise climática.
“Estamos num ponto crítico, onde o que se segue depende apenas de nós. Enfrentamos uma nova era de extinção massiva, com a diferença de que agora o asteroide somos nós próprios, os humanos”, avisou Kenneth Lacovara, o paleontólogo que desenterrou alguns dos maiores dinossauros que já andaram à superfície da Terra. “Os estudos dizem-nos que, a cada 20 minutos, há uma espécie que se extingue, o que significa que perdemos mais de 25 mil espécies no planeta a cada ano. Sem acesso ao futuro, resta-nos estudar o passado e aprender como poderemos mudar o curso da humanidade”.
Da extinção à… “desextinção”
A solução para este declínio acelerado de espécies pode estar na tecnologia reprodutiva e na ciência genética. Depois do Parque Jurássico ter imaginado um futuro onde era possível trazer os dinossauros de volta à vida, os cientistas da Colossal Biosciences estão a passar da ficção à realidade, com um projeto revolucionário que pretende ressuscitar uma versão híbrida do mamute-lanoso, extinto há mais de quatro mil anos, reintegrando-o no seu antigo habitat natural, nas tundras geladas da Sibéria. “É a ida à Lua do Século XXI”, disse Richard Garriot, presidente do Explorers Club, para classificar este projeto.
“Não somos deuses, mas sabemos hoje como o fazer. Temos a tecnologia, temos as equipas e temos também os recursos que nos permitem avançar com este projeto, que começou a ser preparado há mais de uma década”, explica Ben Lamm, investidor e cofundador da empresa, juntamente com o geneticista George Church, considerado o pioneiro em novas abordagens de edição de genes.
“Os progressos têm sido incríveis, mas ainda há algumas etapas a ultrapassar, porque são processos laboratoriais extremamente complexos”, acrescenta, por sua vez, a cientista Eriona Hyosolli, mantendo, apesar de tudo, um prazo de “seis anos” para a sua concretização.
Segundo os responsáveis da Colossal, o projeto pretende não só testar os avanços da tecnologia reprodutiva, como também ajudar na conservação de outras espécies em risco de extinção. Além disso, os cientistas acreditam que a introdução dos híbridos na tundra ártica poderá ajudar a restaurar o habitat degradado e, ao mesmo tempo, combater os impactos das alterações climáticas.
Do continente africano aos polos
O programa deste segundo dia da GLEX Summit trouxe também aos Açores vários exploradores e conservacionistas que estão a fazer a diferença no continente africano, inspirando as comunidades locais a protegerem a vida selvagem, encontrando soluções para a sua coexistência. É o caso de Leela Hazzah, premiada bióloga egípcia, que dedicou os últimos 20 anos da sua vida à proteção de leões nas regiões do Quénia e da Tanzânia. Ou do casal Dereck e Beverly Joubert, cuja missão tem sido celebrar a vida selvagem em documentários, livros e revistas científicas, alertando para o perigo de extinção dos grandes felinos. “Se não fizermos nada para inverter esta tendência, seremos cumplicies do maior crime cometido neste planeta”, declarou Dereck Joubert.
Depois de África, os polos, com o explorador norueguês Borge Ousland, que há mais de 25 anos faz história no Ártico. Em 1994, fez a primeira viagem a solo ao Pólo Norte desde o Cabo Ártico, na Rússia. E, três anos depois, tornou-se na primeira pessoa a atravessar a Antártida a pé e sem qualquer apoio. Aos Açores, veio contar a sua mais recente e extrema proeza: atravessar o polo norte a pé e na total escuridão, numa jornada que se arrastou por quase 90 dias e com temperaturas a rondar os 40 graus negativos. “Foi mesmo no limite. Embora incrível, é uma experiência que não recomendo a todos”.
O último painel dedicado à Terra deu ainda a conhecer o projeto fundado e liderado pelo paleoclimatologista Jérôme Chappellaz, “Ice Memories”. Patrocinado pela UNESCO, este programa internacional propõe-se a recolher amostras de gelo glaciar em todas as grandes montanhas do mundo, para serem guardadas e conservadas com todos os seus registos e testemunhos.
“Os glaciares contam-nos a história da evolução do clima na Terra. São como cápsulas da atmosfera de tempos passados. É urgente preservar estes registos, porque estamos a ficar sem glaciares e sem tempo”, adverte o antigo diretor do Instituto Polar Francês (IPEV). O objetivo é criar na Antártida uma espécie de Arca de Noé do gelo para futuras gerações de pesquisadores.
Nova geração de exploradores em destaque no 3º dia
Amanhã, quarta-feira, o programa da GLEX Summit será dedicado ao EX50 e à nova geração de exploradores. Este programa anual, lançado pelo The Explorers Club, pretende dar a conhecer ao público uma lista de 50 pessoas que estão a mudar o mundo e que o mundo deveria conhecer.
Integrados neste painel estarão nomes como Sian Proctor, a primeira astronauta negra comercial a pilotar uma nave espacial, o biólogo Joshua Powell, a ecologista Natalie Schmitt, o artista visual e autor John Mack, a exploradora polar Sunniva Sorby, a conservacionista Onkuri Majumdar ou a médica e aquanauta Shawna Pandya, primeira a testar um fato espacial comercial em gravidade zero.
A sessão de encerramento do programa presencial da cimeira está marcada para às 13h20 desta quarta-feira, no Teatro Micaelense, com as presenças do Ministro da Economia, António Costa Silva, e da Secretária Regional do Turismo, Berta Cabral.
A GLEX Summit é uma organização conjunta da Expanding World e do The Explorers Club, com os apoios do Governo dos Açores e do Turismo de Portugal.